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8 de maio de 2008

Pequenas revoluções

05/05/2008Pequenas revoluçõesLe Monde Diplomatique - Eleilson Leite
Começou em abril passado mais uma temporada do VAI – Valorização de Iniciativas Culturais, programa da secretaria de Cultura de São Paulo que financia projetos de jovens, grupos juvenis e organizações culturais da periferia. Esta é a quinta edição do VAI, iniciado em 2004. São 103 projetos selecionados entre mais de 700, inscritos no edital lançado no final do ano passado. Cada uma das propostas contempladas receberá R$ 18 mil reais para realizar suas atividades até dezembro. O recurso é depositado diretamente na conta do beneficiado, seja pessoa física ou jurídica. Um investimento de R$ 1,8 milhão muitíssimo bem aplicado. Certamente, o VAI é uma das verbas mais bem executadas da prefeitura de São Paulo.
Dei uma olhada na lista dos contemplados do VAI/2008. O perfil, até onde pude examinar é bastante interessante. Dos 103 projetos aprovados, somente 12 são de pessoas jurídicas. Dentre estas tem uma escola municipal, representada pela APM – Associação de Pais e Mestres. Outro destaque entre as PJs é a Associação Guarani Nhe Porã, de uma das aldeias indígenas de Parelheiros que apresentaram um projeto na área de audiovisual. Embora pequena, considero importante a presença de organizações juridicamente constituídas. É um sinal de maturidade do movimento cultural periférico. Várias rodas de samba, por exemplo, já são ONGs, como é o caso do Samba da Vela e o Samba da Laje. A Cooperifa, além de ser uma associação também tem título de OSCIP- Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Isso confere a essas organizações uma condição interessante para captar recursos e buscar sustentabilidade. Podem, entre outras opções, se tornar Pontos de Cultura, uma iniciativa do ministério da Cultura que vai na mesma direção do VAI.
Não obstante, o VAI mantém seu foco prioritário na pessoa física e isso é muito correto. As organizações que receberão apoio já têm consciência que este é um primeiro impulso. Daqui para frente é bom buscar outras fontes, porque o VAI também procura considerar o ineditismo dos projetos e a curta trajetória dos proponentes. A Cooperifa não foi contemplada na edição do ano passado, certamente porque já era um movimento consolidado. As pessoas jurídicas apoiadas pelo programa em geral têm baixa institucionalidade e o recurso será muito importante para a sua afirmação.
E quem são as 91 pessoas físicas aprovadas no edital? São jovens cheios de motivação e criatividade. Somente quatro deles têm 30 anos ou mais. Por outro lado, 17 têm entre 18 e 20 anos. O restante está na faixa dos 21 aos 29. Soube que a organização do VAI pretende estimular ainda mais a presença de jovens com menos de 20 anos e principalmente aqueles que ainda estão no ensino médio. A grande maioria dos aprovados já saiu da escola. Muitos cursam faculdade e outros tantos já se formaram. Sei de um que faz pós-graduação, por sinal é o único com mais de 30 anos.Todos os jovens aprovados são de baixa renda e moradores de bairros periféricos. A maioria é da Zonal Sul que teve 40 projetos aprovados. A Zona Leste vem logo atrás, com 31 propostas. A Zona Norte tem 14 e a Zona Oeste ficou com 7.
Quanto à temática dos projetos, a análise comprova uma tendência já observada em textos anteriores desta coluna: a literatura é a linguagem artística cujo interesse mais cresce na periferia. Vinte iniciativas tratam das letras. Tem projetos de livros, revistas, fanzines, saraus, oficinas, vídeo e teatro. Todos tendo a literatura como foco. Empatado no topo da lista vem o teatro, com o mesmo número de projetos. Há 19 iniciativas dentro de um universo temático que inclui artes visuais, multimídia e audiovisual. Música ficou com 8 projetos e Cultura Popular recebeu 7. Depois, vêm Hip Hop, e Artes Plásticas, com 7 e 6 propostas respectivamente. Entre os temas com menor número de propostas estão dança (dois projetos) e circo, capoeira e rádio (apenas uma proposta cada).
http://diplo.uol.com.br/2008-05,a2382

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